domingo, 30 de agosto de 2009

Os ombros suportam o mundo




Chega um tempo que não se diz mais: Meu Deus.


Tempo de absoluta depuração


Tempo em que não se diz: Meu amor


Porque o amor resultou inutil.


E os olhos não choram


E as mão tecem apenas o rude trabalho.


E o coração está seco.


Em vão as mulheres batem à porta, não abrirás.


Ficaste sozinho, a luz apagou-se


mas na sombra teus olhos resplandecem enormes


És toda certeza, já não sabes sofrer.


E nada espera de seus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?


Teus ombros suportam o mundo


e ele não pesa mais que a mão de uma criança.


as guerras, as fomes, as discussões dentro dos edificios


provam apenas que a vida prossegue


e nem todos se libertaram ainda.


Alguns achando bárbaro o espetáculo


preferiram ( os delicados) morrer


Chega um tempo em que não adianta morrer.


Chega um tempo que a vida é uma ordem


A vida apenas, sem mistificação.




Carlos Drumond de Andrade

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Manoel Messias Pereira

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