sábado, 26 de dezembro de 2009

O menestrel e o foca petulante

Verde ainda na profissão, fui entrevistar o senador Teotônio Vilela, de Alagoas, que visitava São Paulo. Cabelos ralos pela quimioterapia, revigorados pelas pregações em defesa da democratizações, ali estava, serno, um dos símbolos da luta pela anistia e pelo resgate dos direitos políticos dos brasileiros. Teotônio (foto) acima era um usineiro nordestino, uma classe que em minha juventude enxergava como moedero de bagaço e gente. E foi esse o tom que dei às perguntas. Com ridícula pretensão, provoquei-o sobre a sua sinceridade na conversão da democracia, já que entrara na política pela Arena, o partido da ditadura militar e dos torturadores. Ganhei uma discreta repreensão de um assessor do senado.
O menestrel das Alagoas como era chamado na música de Milton Nascimento e Fernando Brant, interrompeu o assessor:
_Todo o político precisa de repórteres incisivos. É um bom teste. Se o político não rompe à altura, amanhã todos dirão: viu a pergunta que o repórter fêz a Teotônio Vilela? Agora se a resposta é boa, o comentário muda: viu a resposta que o Teotônio deu ao repórte?
Virou para o foquinho pretensioso e incentivou:
_ Pergunta meu filho. Pergunta mais.
Na quarta feira, um vereador de Rio Preto a minha frente, bateu o telefone no ouvido de um repórter de jornal. Justificou-se com o argumento que o jornalista o havia ofendido com reportagens insultosas. E sondou em mim alguma solidariedade. Tenho o respeito por este parlamentar.Ao meu ver, não se inclui entre políticos venais. Mas não obteve de mim o que esperava.
O homem público não é uma pessoa comum, movida a sentimentos. O cidadão comum pode ter os nervos à flor da pele em determinadas circunstâncias. Ao homem público, no entanto, isso não cabe jamais. Deve despir-se de suscetibilidades.
Como disse Teotônio, naquela ocasião, toda a vez que um repórter pergunta algo a um agente público, é a sociedade que espera a resposta.

O ex-ministro e secetário de Estado Dr. Aloysio Nunes, na inauguração do jornal "Bom Dia", disse:
_A imprensa é a onda na qual o político surfa ou afunda.
Depende da capacidade e de competência para enfrentar todos os tipos de perguntas. E de jornalistas.


Crônica
de Julio Cesar Garcia
do Livro
"O dia em que Jesus pilotou o avião"

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Manoel Messias Pereira

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