segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O café



Nós, a borra que restou do café cuado,
um aroma antes se espalhando na cozinha,
eu era o sabor deixado nos tenros lábios
das moças inocentes e rapazes
no que inda ficava da madrugada fria.

Eles, que já se ima despertos, relembrando
velhas canções que ninguém mais sabia
-Ai!, cantado houvessem um só verso,
eu falaria, e faríamos sóis da lua
e da estrela linda, o som da cantoria.

Mas deixado usado coador sujo sobre a pia,
eu assobiava quieto o refrão sem companhia,
enquanto partindo o vulto deles oscilava,
bichinhos que bailavam na noitada,
sombras risonhas numa rua antes vazia.

No pó restado, umedecido, fica a marca
da lembrança do calor, da água que fervia,
da chama azul do fogo que lambia,
das mãos pequenas, róseas quentes,
dos dedos finos que me tocaram um dia.




Augusto Bicalho
poeta brasileiro
São Paulo-SP

Livro - As paredes Caiadas
Editorial Nankin.

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Manoel Messias Pereira

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