quarta-feira, 16 de novembro de 2011



Seção : Cinema-



O bem-amado

Esnobado em seu país, o diretor espanhol Pedro Almodóvar conquista legião de fãs no Brasil. A pele que habito, novo filme dele, tem causado impacto nos espectadores em Belo Horizonte

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Carolina Braga - EM Cultura













Enquanto espanhóis estão %u201Csaturados%u201D de ver filmes de Pedro Almodóvar, brasileiros idolatram o diretor

Experimente cercar o público na saída da sessão de A pele que habito, o novo trabalho do cineasta Pedro Almodóvar, e perguntar em voz alta: Quem não gostou do filme? Ninguém responde. Só o enólogo Lisandro Vieira: “E tem como não gostar?”.

Ter, até que tem, Lisandro. Mas, curiosamente, aqui no Brasil é bem difícil os “contras” se pronunciarem. Almodóvar virou paixão nacional – muito mais aqui que na terra natal dele.

“Durante muitos anos, Almodóvar gozou de prestígio por ser um dos grandes representantes da onda de cinema feito com liberdade surgida depois da ditadura de Franco. No entanto, à medida que sua produção foi aumentando, crítica e público começaram a analisar os filmes a partir de critérios de qualidade. A dimensão política se reduziu e o que ficou foi o cinema dele. E cinema, como tal, tem admiradores e detratores”, explica o crítico e professor de cinema espanhol Jordi Sanchez-Navarro.

A pele que habito não foi escolhido para representar o país na corrida por uma indicação ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. O catalão Pa negre, de Agustí Villaronga, é o indicado. Segundo Sanchez-Navarro, ele tem estilo completamente diferente do adotado pelo cineasta admirado pelos brasileiros. “De repente, a academia assumiu que apresentar o novo filme de Almodóvar teria um efeito de saturação. Pa negre, além dos méritos artísticos, representaria outra forma de focar história e sociedade espanholas”, completa.

Em termos de bilheteria, esse drama sobre o pós-guerra nem chega aos pés do longa protagonizado por Antonio Banderas. A última vez em que Almodóvar foi “recomendado” ao Oscar pela Espanha ocorreu em 1999 – aliás, ele levou a estatueta por Tudo sobre minha mãe. Fale com ela (2002) e Volver (2006) receberam prêmios, mas em categorias como roteiro, direção e atriz. Sendo assim, a exclusão não seria sinal de certa implicância?

Frescor
Para a publicitária espanhola Virgínia Vaccaro, o reconhecimento de Almodóvar por parte da indústria internacional afetou não apenas a produção dele, mas a relação de seus filmes com os conterrâneos. “Falta frescor. Muitos elementos continuam os mesmos, com determinados personagens do entorno dele de quando morava no interior. Mas, agora, ele os trata de forma glamourosa. Almodóvar parece mais racional, perdeu certa espontaneidade”, lamenta.

No Brasil, a impressão é outra, mesmo que o cineasta não alcance o grande público. Em Belo Horizonte, além de quatro horários no Usiminas Belas Artes, A pele que habito está em cartaz no Cineart Boulevard, mas apenas na sessão das 13h40. O espectador brasileiro se identifica com a linguagem do cineasta. O problema é explicá-la. “Temos a fama de gostar de coisas dramáticas. Deve ser por isso”, especula a estudante Letícia Boratto, depois de conferir o filme no Belas.

“Tantos absurdos que ele relata só podem ocorrer abaixo dos trópicos”, brinca a advogada Maressa Miranda, referindo-se ao discurso de Gabriel García Marquez quando ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. “Tem a ver com melodrama”, aposta o ator Vinicius Souza. “Tantas reviravoltas nos remetem à linguagem das novelas”, completa Leonardo Lessa, também ator.

De mentira
Na Espanha, ainda que o diretor atraia grande público, a identificação com as criaturas de Almodóvar vem se diluindo. “Nos primeiros filmes, sentia-me representada. Os personagens eram mais reais. Com os atuais é impossível o espanhol médio se identificar. Todos vivem em casas de mentira, têm profissões ideais, tudo está muito distante da realidade”, critica Virginia Vaccaro. “Espectadores e críticos espanhóis pensam que o cinema de Almodóvar é especial, mas, para eles, a extravagância não representa a Espanha”, completa Jordi Sanchez-Navarro.

Enquanto por lá os detratores são ferozes, Pedro Almodóvar sabe da paixão dos brasileiros por seu trabalho. Tem procurado retribuir a admiração, ainda que toscamente. Se em Fale com ela Elis Regina e Caetano Veloso aparecem dignamente na trilha sonora, em A pele que habito um dos personagens fala português. O diretor embarca na visão clichê do estrangeiro sobre o Brasil. Curiosamente, isso parece não influenciar a receptividade do longa por aqui. “É aquela síndrome de se sentir homenageado”, lembra Maressa Miranda.

“Chapante”
Em A pele que habito, Antonio Banderas interpreta o cirurgião plástico capaz de desafiar a moral e a ética para levar seus planos adiante. De tão bizarra, a história poderia causar desconforto. Mas não. “É surpreendente, ‘chapante’. Comecei a discutir o filme aqui, ainda não sei o que os personagens significam, qual a função deles”, diz a psicóloga Cláudia Natividade, na saída do Belas. “Ele me deixou de boca aberta. No fim da sessão você olha e vê todo mundo parado”, comenta a estudante Letícia Boratto.

“É uma história típica do Almodóvar, mas talvez nesse filme as situações sejam mais extremas. Apesar de todas as barbaridades, ele continua sustentando um humor que não deixa a sensação de mal-estar”, acredita o arquiteto Fernando Maculan. O secretário escolar Breno Alves concorda: “Surpreendente é a melhor palavra para este filme. A intensidade deixa você inquieto. Não há como não ser instigado pela história”.

Na Espanha, A pele que habito foi bem recebido pela crítica, mas com ressalvas. “Os detratores costumam ser raivosos, manifestam sua opinião de modo beligerante. Almodóvar continua tendo o público e a crítica a seu favor, apesar da sensação de saturação. Digamos que, cada vez mais, público e crítica esperam por seus filmes com facas afiadas, mesmo que, ao final, apreciem suas virtudes”, conclui o professor espanhol Jordi Sanchez-Navarro.

Itália à vista
A próxima investida de Pedro Almodóvar é a Itália. O cineasta vai levar para as telas a biografia da cantora Mina, diva italiana que se retirou da vida pública depois de muita polêmica. Marisa Paredes está escalada para dar vida à mulher de sucesso na música e na TV que escandalizou a sociedade ao ter um filho com um homem casado. O lançamento está previsto para o ano que vem.







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Manoel Messias Pereira

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