terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Escritores da Liberdade




- renato kramer
"Escritores da Liberdade" reforça a importância do bom professor

Na "Sessão de Gala" (Rede Globo) desse domingo, parece que só em São Paulo, foi ao ar o filme "Escritores da Liberdade" (Freedom Writers --2007), de Richard Lagravenese. Um filme que começa de forma singela a contar uma história de uma jovem professora recém-casada que inicia a dar aulas de inglês num colégio qualquer. Nada muito surpreendente.

A sua turma é composta de adolescentes problemáticos, advindos de famílias desajustadas, morando em regiões de alto índice de violência. Até aí, nada muito novo, nem mesmo nas telas do cinema. Alguns tantos filmes já trataram deste universo, talvez o mais clássico de todos ainda seja "Ao Mestre Com Carinho" (To Sir With Love --1967), de James Clavell, cuja música tema homônima costuma tocar até os dias de hoje nas rádios FM.

A cantora do single, a inglesa Lulu, integrava o elenco: fazia Bárbara, uma das alunas mais rebeldes do professor Thakeray (Sidney Poitier). A história se passava em Londres, no bairro operário de East End.

"Escritores da Liberdade" se passa na Califórnia (USA) em 1994 e é baseado em fatos reais. Aos poucos o 'singelo' do início vai se tornando intenso e envolvente. A professora Erin Gruwell (Hilary Swank) entra para o Woodrow Wilson High School sem ter muita ideia do que vai encontrar, mas aceita o desafio e começa a transformar a vida daqueles alunos.

Erin enfrenta regras engessadas e protocolos obtusos para dar sentido à vida dos seus alunos. E tem uma ideia simples a princípio, que se torna um dos maiores incentivos para a perseverança dos mesmos. Pede que eles todos leiam o "Diário de Anne Frank".

O livro, escrito pela menina judia de treze anos de idade, quando estava escondida com sua família em Amsterdam durante a ocupação nazista nos Países Baixos - traz uma lição de força e de coragem para todos os alunos.

Mas comovente mesmo foi o encontro que tiveram com a senhora Miep Gies, que teria dado refúgio à Anne Frank e sua família.

Tudo começa quando a professora pede que os alunos escrevam uma carta cada um para a senhora Gies, contando a sua própria história e comentando o que acharam do livro. Assim é feito. Então, um aluno muito envolvido no processo todo, sugere que se chame a senhora Gies para uma palestra.

Erin resiste um pouco, mas percebe o valor que esse encontro poderia ter para aqueles adolescentes pelo brilho em seus olhos ao ouvirem a proposta do colega.. Aceita mais esse desafio e todos vão à luta para angariar fundos para viabilizar a vinda da senhora Gies. E conseguem.

Em meio a essa conquista toda, Erin vê o seu casamento ir por água abaixo. Quando se dá conta, seu marido está de malas prontas e a deixa. "Você poderia me apoiar neste momento tão produtivo do meu trabalho... tanta mulher faz isso por seus maridos", argumenta a professora. " Mas eu não posso ser sua mulher!", responde ele e se vai.

Além disso, Erin ainda enfrenta uma professora 'das antigas', que não vê com bons olhos os avanços da novata. Tenta por muitos caminhos até impedir que ela tenha sucesso. Mas a jovem segura a barra e não desiste do que acredita. A atriz Hilary Swank, que confesso não conhecia, faz a professora Erin com tanta naturalidade que ganha o espectador desde o princípio, e emociona a cada embate dramático que enfrenta.

Chega o dia da palestra da senhora Gies. Todos estão ansiosos à espera da mulher corajosa que enfrentara risco de morte para tentar salvar algumas vidas. Ela entra e é conduzida até o palco, onde narra a história de quem viveu a História. Comovente. O aluno que deu a idéia de chamá-la levanta-se e diz: "A senhora é uma heroína!".

"Não, eu fiz o que tinha que ser feito. E eu li a cartinha de cada um de vocês. Vocês é que são heróis pelo que enfrentam... temos que ser heróis todos os dias", conclui Miep Gies.
"Escritores da Liberdade" (que depois tornou-se um projeto atuante até os dias de hoje) assim como "Ao Mestre Com Carinho", na figura de professores obstinados por ver o crescimento intelectual e o amadurecimento pessoal de cada aluno seu, vem trazer à baila uma mensagem simples e óbvia, mas difícil de manter em prática: sempre vale a pena! E para isso é preciso coragem, como teve a senhora Gies.

Publicação da Folha de São Paulo
10/12/2011

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Manoel Messias Pereira

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