quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Voltaire e Carolina Mathilde uma história de amor e adultério




 Por Rui Martins, de Berlim





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Reprodução

O filme “A Royal Affair” um dos fortes concorrentes aos Ursos do Festival de Berlim é uma homenagem a um precursor em matéria de leis sociais e direitos humanos, no distante ano de 1768. É também a história de um amor e adultério, que levou a rainha Carolina Mathilde a ser expulsa da Dinamarca.



“A Royal Affair” colocou nas telas do Festival de Berlim uma época pouco conhecida da Dinamarca, nos meados do século XVIII, quando o chefe do Conselho de Ministros promoveu reformas sociais e de direitos humanos, antes da Revolução Francesa, e chegou a receber uma carta elogiosa do revolucionário francês Voltaire. É um filme com sérias hipóteses de ganhar algum prémio no sábado.



O ano era o de 1768 e o Rei Christian VII regressava de uma viagem de um ano pela Europa, acompanhado de seu médico alemão Friedrich Struensee. Fazia um ano, que o Rei dinamarquês se casara com Carolina Mathilde, de 15 anos, filha do príncipe de Galles, mas era já um péssimo esposo, um tanto desinteressado sexualmente pela esposa e um tanto maluco, contam os historiadores.



Comentava-se na Corte que, provavelmente, o monarca se tinha masturbado demais, desde a infância, e isso lhe acarretara uma certa folia, pois sua busca de prazer era evidente, passava a maior parte do tempo com prostitutas.



Pobre de espírito ou simplesmente pusilânime, Christian era um joguete nas mãos do Conselho de Ministros e a Dinamarca vivia um reacionário regime feudal ainda da Idade Média. Nessa altura, o médico Struensee, próximo dos iluministas, ateu e leitor de Rousseau e Voltaire, tornou-se amigo do rei e conseguiu libertá-lo dos aristocratas da Corte.



Houve uma pequena revolução que desagradou ao clero e à nobreza e que incluiu diminuição nas horas de trabalho para o povo, o fim da tortura e medidas laicas. A rainha, de origem inglesa, que se sentia oprimida numa corte tão reacionária, ajudou Struensee nas reformas e tornou-se sua amante. A sua segunda filha não teve o rei como pai.



Descontentes por terem perdido mordomias, os antigos membros do Conselho de Ministros, demitidos pelo rei, imaginaram um golpe de Estado, depois de lançarem junto do povo uma campanha de difamação contra Struensee. Conseguiram influenciar o monarca para assinar um mandado de prisão contra Struensee que, encarecerado e submetido a torturas, confessou ser amante da rainha. Ela foi banida e morreu aos 24 anos. E ele, sob promessa dos golpistas de que seria expulso da Dinamarca, retratou-se e reconciliou-se com a Igreja, mas acabou decapitado.



O cineasta Nikolah Arcel, amigo de Lars von Treier, conta que há muitos anos tinha vontade de transformar em filme essa história de política e de amor-adultério na corte real, até porque o povo que, manipulado pelos clérigos e nobres, pediu a cabeça de Struensee, mais tarde reconheceu o valor e o espírito vanguardista desse homem. E o filho de Caroline Mathilde, ao assumir o poder, fez uma uma reabilitação postuma de Struensee e revalidou as leis por ele promulgadas.



Nikolah Arcel nega ter pretendido fazer um filme subversivo, pois o anticlericalismo é evidente, quis simplesmente realçar a personalidade do antigo vanguardista chefe do Conselho de Ministros. As filmagens foram feitas num castelo real na República Checa.



Lars von Treier, o premiado cineasta dinamarquês que detesta a família real, não participou na escrita do argumento mas agiu como consultor, dando opiniões e sugestões. Embora dinamarquês, o filme é falado em alemão, já que na Corte dinamarquesa se falava alemão.



Rui Martins, de Berlim, convidado pelo Festival de Cinema







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Manoel Messias Pereira

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