domingo, 18 de março de 2012

A Literatura interpretando a contemporaneidade

José Manuel de Souza

A Literatura interpretando a contemporaneidade





É a partir da modernidade, e nas luzes, com Stendhal, um dos primeiros escritores realistas apresentando na literatura francesa o seu romance O Vermelho e o Preto, uma crónica social, ou Jean Jacques Rousseau O Contrato Social (ou princípios do direito político) (1820): e na Revolução Industrial (final do século XVIII e princípio de XIX – 1822), depois da Revolução Francesa (1789), burguesa e sangrenta, que surgirão os grandes movimentos proletários, que se projectarão nas primeiras grandes manifestações sociais na Alemanha relatado pelo drama Die Weber (Os Tecelões) de Gerhart Hauptmann, tratando da malsucedida revolta dos esfaimados tecelões na Silésia em 1844.



Ainda no romance realista do século XIX surgirão os escritores Emile Zola e Gustave Flaubert, a descrever as miseráveis condições de vida dos trabalhadores assalariados das indústrias em França. Em Paris no final do século XIX, essas grandes manifestações multitudinárias de descontentamento social e laboral, começaram a ser rechaçadas na abertura de grandes avenidas para as combater com cargas de cavalaria, como o Boulevard des Italiens, Sebastopol, ou Haussmann, perpetuando o nome do seu arquitecto criador, Georges Haussmann.



No início do século XX, pela luta continuada da política Lebenraus (da conquista do espaço vital), no solo europeu até aos urais, e navegando através dos oceanos em busca da sedimentação dessas novas posições geo-estratégicas, anteriormente conquistadas, assistimos à procura de assegurar o domínio desses territórios ultramarinos como forma de conseguir a captação e fornecimento das matérias-primas necessárias ao desenvolvimento industrial da Europa-ocidental de – especiarias, alimentos, algodão em rama para a fiação de tecidos, lã, petróleo, gás, aço, metais e pedras preciosas, etc. E como contra-partida, a exportação para essas colónias de alguma maquinaria industrial (e agrícola) fabricada no continente europeu, maioritariamente pela Inglaterra, Holanda, França, Bélgica e Alemanha. Por este controle geo-estratégico das matérias primas foram desencadeadas duas Guerras Mundiais que descambaram na barbárie de milhões de seres humanos mortos pela metralha, pela fome e seguidamente pelas pestes (pandemias) daí imanentes, na



exposição a céu aberto e decomposição de cadáveres humanos e de animais – falta de salubridade e de água potável.



Na primeira metade do século XX, no intermédio das duas guerras com o advento do crash bolsista de 1929, já parecia adivinhar-se o fracasso desta política patriarcal de crescimento sustentado no capital e na produção maximizada de mercadorias assente no desenvolvimento de maior produção, igual a maiores lucros. Depois do final da Segunda Guerra Mundial com a implementação do Plano Marshall e com o propalado “milagre económico” de Adenauer, na reconstrução da Alemanha, e seguidamente da França, aparentemente tudo parecia encaminhar-se de novo para o sucesso do sistema neo-liberal consumista. A consolidar esta política desenvolvimentista, viria o “acordo do aço” na formação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) a seis países, alargado posteriormente pelo acrónimo CEE, sob o mesmo prisma



de crescimento, de uma política errática do “quanto mais melhor”, alargada a vinte sete países, ora denominado União Europeia, pela sigla UE.



Com o “milagre económico” alemão, iniciado a partir de 1948, a civilização do capitalismo emergirá em força no consumismo de bens e objectos supérfluos, e de luxo, mas apenas acessíveis a uma camada da população média-alta denominada burguesia, resultante desse aparente bem-estar social proveniente duma sociedade em reconstrução, mas fragilizada pelas contradições sociais internas, a gerarem desigualdade e ausência de solidariedade. Apenas alguns tinham direito (automóvel, electrodomésticos, equipamentos produtores de cultura – telefonia, televisão, e outros gadget de entretenimento) a este modo de vida promocionado pelo crescimento a nível global dos mercados, sem comparação anterior, a um nível de bem estar proporcionado a uma pequena parte da população mais privilegiada.



Neste período os intelectuais alemães duma linha descontextualizada com o capital, apelidada de Socialdemocrata, nada tendo a ver com o que se consigna chamar em Portugal, mas sim com uma linha socialista mais deslocada à esquerda, viria a contestar este processo de reconstrução da Europa assente maioritariamente no capital, em desfavor do homem e do social. Entre esse sentimento, situaram-se os



intelectuais aderentes ao Grupo 47 de Hans Werner Richter, contestatários ao chamado “milagre económico alemão” de Adenauer. O romance e a poesia referente a este período foi contado na terceira-pessoa, e em forma satírica, visto a memória recente não o permitir de outra forma sob o risco de se ser internado em algum hospício, e dado como louco, tal como aconteceu a Oskar Matzerath protagonista de O Tambor de Lata. Este período, foi tratado sub-repticiamente nas entre-linhas (subjectivamente) na terceira pessoa pelo romance do “realismo mágico” de Bilhar às nove e Meia de Alfred Döblin, e O Tambor de Lata de Günter Grass. Na poesia ressaltará os nomes de Gotfried Benn e Heinrich Heine, entre os de muitos outros



escritores, que saíram da sua “emigração interior” e expulsaram os seus demónios sublimados por mais de vinte anos, encapsulado pela ignomínia do fascismo nazi e depois pela ditadura do capital a perfilar-se no horizonte próximo.



* Co-orientando em Tese de Mestrado, sobre Literatura Contemporânea Europeia, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – FLUC







José Manuel de Sousa *





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