terça-feira, 15 de maio de 2012

A esquerda radical grega não aceita um governo de tecnocratas

Coligação na Grécia não é possível, diz esquerda moderada

António Carneiro, RTP




O homem do momento. O líder do Syriza, Alexis Tsipras, diz que não viabilizará nem sequer um governo de tecnocratas que ponha em prática a politica de austeridade da troikaSimela Pantzartzi, EPA

O Presidente da Grécia vai pedir hoje aos partidos para que se arredem de cena e permitam a formação de um governo de tecnocratas, com o objetivo de evitar a bancarrota do país e manter o país no euro. A ideia, que parece ser a última hipótese de evitar novas eleições, pode estar condenada à partida com a recusa antecipada do Syriza em viabilizar “um executivo de personalidades”. O risco de um contágio a outras economias da Zona Euro agrava-se a cada momento. Segunda-feira as bolsas europeias registaram perdas generalizadas e agravaram-se os juros sobre as dívidas grega, portuguesa espanhola e italiana.

Um governo de tecnocratas foi o que a Grécia teve nos últimos seis meses, liderado por Lucas Papademos e viabilizado pelos conservadores e socialistas, que juntaram forças para implementar o plano de resgate.



No entanto, tanto o Nova Democracia como o Pasok foram fortemente penalizados pelos eleitores nas eleições de dia 6 de maio, enquanto as forças que se opõe à austeridade saíram reforçadas.



Medida desesperada



O facto de o Presidente Karolos Papoulias ter voltado a recorrer a esta fórmula revela o desespero da classe política grega que, nove dias depois das eleições, ainda não conseguiu formar um governo.



A questão foi resumida ontem à noite pelo líder dos socialistas, Evangelos Venizelos.



“Não é normal ter um governo de tecnocratas ou de personalidades mas, quando se está numa crise destas, num beco sem saída, tem-se também de aceitar isto”, disse o líder do Pasok.



No entanto, o líder socialista mostra-se descrente: “As coisas estão muito difíceis. Não estou otimista”.



Evangelos Venizelos tem razões para estar pessimista. O principal partido entre os que se opõe ao acordo entre a Grécia e a troika considera o plano apresentado pelo Presidente Karolos Papoulias como apenas mais um esquema para impor as medidas de austeridade exigidas pelos credores internacionais, contrariando o sentimento geral dos gregos expresso nas eleições de dia 6.



O "não" antecipado do Syriza



“Vamos comparecer na reunião, mas mantemos a nossa posição. Não queremos consentir em qualquer tipo de políticas do resgate, mesmo que sejam postas em prática por personalidades não-políticas”, disse o porta-voz do Syriza, Panos Skourletis.



O Syriza foi a segunda força mais votada e tem razões para querer forçar novas eleições, uma vez que as atuais sondagens lhe auguram, desta vez, uma vitória retumbante.



À recusa da força política liderada por Alexis Kouvelis somam-se ainda as reticências de outros protagonistas.



"Fracasso da política"



“Disse ao Presidente que um governo de tecnocratas ou de personalidades seria sugerir o fracasso da política e levantei as minhas objeções”, afirmou o líder do partido Dimas, Fotis Kouvelis.



O pequeno partido de esquerda moderada, liderado por Kouvelis, obteve 19 deputados e poderia viabilizar uma maioria se aliasse aos partidos que defendem o acordo de resgate, Nova Democracia e Pasok. No entanto, tem-se recusado a fazer parte de uma solução se esta não incluir os radicais do Syriza por, alegadamente, querer respeitar a vontade maioritária do povo.



A perspetiva de um futuro governo na Grécia que renegue os termos do acordo de resgate e os cortes nos salários e pensões provocou, na segunda-feira, uma queda generalizada das bolsas europeias. Os investidores temem que a Grécia entre em bancarrota e se veja forçada a deixar o euro, o que aumentaria radicalmente os riscos associados às dividas dos outros países do euro em dificuldades.



Saída da Grécia do euro acarretaria prejuízos de dezenas de milhões



A somar-se a isso estão os enormes prejuízos que mesmo as nações mais fortes do euro teriam de enfrentar.



Em França, o ministro cessante da Economia, François Baroin, admitiu hoje que uma saída da Grécia da moeda única custaria algo como 50.000 milhões de euros aos cofres franceses só em perdas diretas, e isto sem contar com os prejuízos dos títulos e obrigações de dívida grega que os bancos franceses têm em seu poder.



Razão de sobra para que os ministros das Finanças da Zona Euro tenham, na sua reunião de ontem, evitado pôr gasolina no lume e suavizado a retórica no que respeita a uma eventual saída da Grécia da zona monetária comum (ver notícia).



A "oferta" do Eurogrupo



O presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, admitiu que um novo governo grego poderia, potencialmente, pedir que fossem prolongados os prazos para o cumprimento das metas de austeridade, desde que se comprometesse firmemente a respeitá-las.



“O governo grego teria de tornar claro que está firmemente comprometido com o programa e, se estivessem em causa circunstâncias excecionais, não nos recusaríamos a discutir este assunto”, disse Juncker, que, na ocasião, se manifestou fortemente contra uma eventual saída da Grécia do Euro.



Mesmo assim, a julgar pela determinação dos que na Grécia se opõem a qualquer prolongamento da austeridade, esta é mais uma oferta que se arrisca a cair em saco-roto.



TAGS: euro, governo, partidos, Grécia,



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Manoel Messias Pereira

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