quarta-feira, 17 de abril de 2013

Fundação do Teatro Experimental do Negro 7



Fundação do Teatro Experimental do Negro - 7
 

DIÁRIO DA MANHÃ
MARTINIANO J. SILVA
O Teatro Experimental do Negro (TEN), não raro os preconceitos, participava dos principais eventos culturais e políticos da cidade, sobremodo de cunho popular.  Em 18 de novembro de 1979, uma notinha do ator e jornalista José Fraga, publicada no jornal Opção, informava: Apresentando o Auto de Zumbi o Teatro Experimental do Negro estará hoje na Feira de Artesanato da Praça Cívica, às 10h da manhã, utilizando para a abertura um poema comemorando o Dia Nacional da Consciência Negra contra a discriminação racial. Estarão presentes poetas e escritores goianos, quando o escritor Martiniano José da Silva falará sobre o evento.

Um pouco antes, talvez em meados de agosto do ano citado, Auto de Zumbi havia sido o ponto alto no encerramento da semana do folclore, na cidade. José Fraga, diligente, registrou o fato no jornal citado, destacando:

O Auto de Zumbi foi o ponto alto no encerramento das festividades que marcaram o fim de Folclore e Artesanato, no saguão principal do Parthenon Center.

A mostra realizou-se sob os auspícios da Primeira Dama do Estado e reuniu caravanas vindas das principais cidades do interior de Goiás, Minas e Mato Grosso, alcançando grande repercussão em toda a região.

O Teatro Experimental do Negro mostrou a abertura do Auto de Zumbi, um texto que enfoca a Carta de Princípios do Instituto Goiano de Estudos Afro-Brasileiros, entidade da qual é parte integrante o Experimental do Negro em Goiás. Os intérpretes foram a atriz Joana D'arc Fraga e o ator Regis Aragão, dirigidos por José Fraga.

As dependências do Parthenon Center estiveram lotadas na noite de quarta-feira passada, com o governador, a primeira dama, Secretários de Estado, Reitores de Universidades, intelectuais, estudantes e um grande público presente ao evento e aplaudindo demoradamente os atores”, acrescentando:

“Apresentações do Auto estão programadas para as cidades de Itumbiara e Santa Helena, onde o presidente do Instituto Goiano de Estudos Afro-Brasileiros, escritor Martiniano J. silva proferirá conferências acerca da problemática do negro na sociedade brasileira.

Já no dia 21 de novembro de 1980, o Teatro Experimental do Negro era notícia no jornal Folha de Goiás, com a manchete: ‘Movimento Negro na Aliança Francesa’, onde o Auto de Zumbi chegou através da forte influência do advogado e escritor Licínio Leal Barbosa, prefaciador do livro Sombra dos Quilombos (1974), que falava o francês fluentemente e tudo fez para a apresentação da peça, já chamando muita atenção do público. O Auto de Zumbi vinha de uma das últimas apresentações, no Portinari, do Parque das Laranjeiras, pois ninguém pode duvidar do seu dinamismo, como um dos seus objetivos. Folha de Goiás informava:

‘Um novo Ato Cultural está sendo programado para hoje pelo Instituto Goiano de Estudos Afro-Brasileiros, devendo se realizar no auditório da Aliança Francesa, próximo da Faculdade de Medicina, no Setor Universitário, a partir das 19 horas.

Do programa consta a apresentação do Auto do Zumbi, pelo Teatro Experimental do Negro em Goiás, e palestra do historiador e sociólogo Clovis Moura, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas e Secretário Geral da União Brasileira de Escritores, em São Paulo. Abordará o tema, ‘Negro – o grande credor da sociedade brasileira’, seguido da manchete ‘Zumbi dos Palmares’, prosseguindo:

“O dia de hoje, 21 de novembro, assinala o aniversário da morte do grande líder negro Zumbi dos Palmares e à frente deste movimento, estão o jornalista José Fraga e o escritor Martiniano José da Silva. O conferencista da noite é autor de várias obras sobre a problemática do negro brasileiro, entre elas ‘Rebelião na senzala’ e ‘Negro, de bom escravo a mau cidadão’. A entrada é franca para o espetáculo.

AUTO DE ZUMBI

Montagem do Ator José Fraga

1º ator – Esta é uma carta de princípios. A carta de princípios do Instituto Goiano de Estudos Afro-Brasileiros (IGEAB).

2º ator - O Instituto Goiano Afro-Brasileiro, é uma sociedade civil sem fins lucrativos, com sede em Goiânia, Capital do Estado de Goiás, podendo realizar cursos, estudos, congressos, simpósios, mesas redondas, painéis, edições de jornais, de livros, revistas, pesquisas e debates, sobretudo aquilo que se relaciona com o negro brasileiro e sua problemática.

3º ator – Visa o Instituto Goiano de Estudos Afro-brasileiros, principalmente, lutar contra o preconceito de cor, a perseguição racial em todas as suas manifestações, com realce n o mercado de trabalho, participando ativamente de todas as campanhas de valorização do homem negro.   1º ator – Por isso, deseja denunciar a discriminação racial, a opressão policial, o desemprego, o subemprego e a marginalização nas quais vive o negro brasileiro.

2º ator – Isto porque o negro não é apenas divertimento de turista. E porque o negro não é apenas chofer de fogão, marginal, dissipado na cachaça ou um pai João.

3º ator - Ora! Os pretos vieram, os pretos sofreram, os pretos trabalharam, e os brancos enriqueceram.

1º ator - Hoje, tantos anos decorridos, ressoa em nossos ouvidos o grito da multidão. Somos escravos libertos. Mas se não há troncos, nem peias, foram abertas outras prisões.

2º ator - é a prisão da pobreza, do negro estendido sob o sol que lhe negou o brilho. Olhar cansado e sofrido. Mãos estendidas, pedindo esmolas, pagando o alto preço, de escravo ter sido.

3º ator - Pois eu conheço o grito de angústia. Você quer ouvir? Sou um negro, senhor, eu sou um negro!

1º ator - Você precisa saber que a negra não é somente para trabalhar e fornicar. Ela é gente. Ela, a negra, também é para casar. Seu gemido é um protesto. Eu sinto em minhas veias o grito dos cafezais. Enxergo em minhas mãos a sombra dos meus irmãos, vergados pelo chicote dos senhores da terra. Aqueles que carregam o Brasil nas costas, não tem túmulos, nem legendas. Seu sono não é velado, seu nome ninguém conhece.  

(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, UBEGO, mestre em História Social pela UFG, professor universitário)

   


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Manoel Messias Pereira

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