sábado, 13 de julho de 2013

As mulheres devem ser independentes


“As mulheres devem ser independentes”
Em novo livro, Ana Maria Machado desconstrói as clássicas histórias de princesas




: Ana Maria Machado, lançamento, Literatura, livro, Uma duas três princesas
Amanda Massuela e Mariana Marinho

"Por um lado, poderia dizer que me reinvento a cada dia. Por outro, também poderia dizer que sou fiel a mim mesma, a mesma pessoa desde sempre"
“- Agora, meu querido, só temos um jeito
- Qual?
- Vamos ser modernos e acabar com essa história de príncipe herdeiro.”
O diálogo faz parte do mais recente livro de Ana Maria Machado, Uma, duas, três princesas, lançado em maio pela Editora Ática. Com o nascimento da terceira filha – num momento em que todo o reino esperava pela vinda de um menino que pudesse assumir o trono -, o rei e a rainha decidem mudar as regras do jogo e acabar com a velha ideia de que princesas não podem governar. Para tanto, elas precisam receber a mesma “educação que os príncipes antes tinham”.
Numa leitura contemporânea dos tradicionais contos de fadas, a escritora substitui o sapatinho de cristal, o capuz vermelho e o príncipe encantado por computadores, tablets, revistas e livros. As três irmãs, herdeiras únicas do trono, recebem a missão de encontrar uma resposta para o mal misterioso que deixou o rei de cama – e, para isso, devem colocar todo o seu conhecimento em prática.

“Inspirei-me em todas as princesas de contos de fadas que já existem, mas quis fazer estas moreninhas, como são as mulheres brasileiras, em geral. Inspirei-me também em nós todas, de mim mesma à minha neta”, conta Ana Maria Machado, atual presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) e vencedora do prêmio Hans Christian Andersen, em 2000, uma espécie de Nobel da literatura infantojuvenil. Em outubro, ela segue para a Alemanha para participar da mais importante festa literária do mundo, a Feira do Livro de Frankfurt. Neste ano, o Brasil participa como convidado de honra.
Em entrevista ao site da revista CULT, Ana Maria Machado falou sobre sua nova obra.
CULT - A temática da internet se faz bastante presente nesta obra. Você enxerga isso como uma tendência dos livros voltados para crianças e adolescentes que vivem plugados?
Ana Maria Machado - Não, não acho que seja tendência, mas é um aspecto da vida contemporânea. E quando se quer incluir na obra alguns indícios de atualidade, é natural que eles entrem. Assim, um príncipe pode andar de moto, um rei viajar de avião, uma princesa usar a internet, etc… Mas se fosse uma história passada em outro tempo, não precisava.
Logo no começo do livro você coloca que as princesas teriam que ter a mesma educação que os príncipes. Qual a importância de trazer personagens femininas independentes?
Isso faz parte de minha visão do mundo, desde meu primeiro livro infantil, Bento-que-bento-é-o-frade, publicado em 1976. Sou assim, acho que as mulheres devem ser independentes, eduquei meus filhos com esses valores.
Com a internet e as novas tecnologias, o que muda na hora de produzir uma obra infantil? Você teve que se reinventar para acompanhar a revolução tecnológica?
Para mim não mudou nada. Eu escrevo textos, não produzo os livros. Quanto a “me reinventar”, não sei. Por um lado, poderia dizer que me reinvento a cada dia. Por outro, também poderia dizer que sou fiel a mim mesma, a mesma pessoa desde sempre. Em relação às novas tecnologias, sou muito atualizada com elas, me sinto muito à vontade, mas escrever, para mim, é uma questão de linguagem verbal. Nunca escrevi um livro a mão ou caneta, sempre datilografei ou digitei, mas não tenho vontade de ir além das palavras. Isso é para quem adaptar o texto depois.
Qual a importância da leitura na formação das crianças em um mundo cercado pela internet?
A leitura tem a mesma importância para crianças e adultos. A pessoa precisa ler, não importa em que suporte. O ideal, para desenvolver seu potencial e poder exercer uma leitura crítica que a faça crescer, é que leia textos de qualidade, confiáveis, não bobagens – em tela ou papel.
Você acredita que as crianças ainda demonstram interesse pela leitura de livros?
Toda criança é curiosa. Diante da oportunidade de ler um livro interessante, terá vontade de ler. Principalmente se à sua volta houver adultos que leiam. Criança quer crescer e fazer igual aos adultos. Se nunca encontrar ninguém lendo um livro, terá muito pouca chance de se interessar por isso, mas se houver exemplo de leitores por perto, vai querer ler.
Você escreve para adultos e crianças. Como lida com esses dois universos? Tem preferência por um dos dois?
Lido com os dois universos de maneira muito semelhante, porque o que me desperta para escrever não é a idade de um possível leitor, mas um fascínio pela linguagem e seus desafios — sobretudo, narrativa. Então procuro sempre narrar de forma adequada a história que estou contando.
Você foi a primeira autora infantojuvenil eleita pela Academia Brasileira de Letras. O que isso representou para você?
Alguns anos antes, eu ganhara da ABL o prêmio Machado de Assis, para conjunto de obra – e não apenas para infantojuvenil.  Dado por um júri formado por Lygia Fagundes Telles, Carlos Heitor Cony e Eduardo Portella. Recebi esse momento com a alegria de ter um reconhecimento de qualidade e uma consagração como escritora – romancista, ensaísta e autora infantojuvenil. Entrar para a Academia depois foi quase uma consequência natural.
Como a jornalista influência a escritora e vice-versa?
Eu já deixei o jornalismo há alguns anos, e não creio que a escritora tenha influenciado a jornalista, a não ser no amor pela linguagem e na vontade de me expressar bem. Já o jornalismo me ensinou muito: a observar, a indagar a motivação do que observo, a tentar entender os diferentes lados e a visão de cada personagem, a relacionar fatos aparentemente soltos, a escrever com rapidez e a ser concisa quando necessário.
Os livros da coleção Barquinho de Papel vêm ganhando edições reformuladas. Qual a importância disso?
É uma questão de mercado editorial. Meus livros são do tipo chamado de long-seller. Quer dizer, ficam anos e anos em catálogo, sem parar de vender. Estão sempre encontrando novos leitores. Então tenho o cuidado de, na medida do possível, fazer com que o visual deles mude com o tempo, para não ficarem com ar de antiguinho. Às vezes são necessárias novas ilustrações. Outras vezes, basta uma nova capa ou projeto gráfico. O visual pode sair de moda com rapidez, enquanto a permanência do texto tende a ser muito mais longa. O suporte pode variar à vontade, as palavras permanecem. Um poema de Homero pode não ser mais cantado ao som da lira, mas ainda nos empolga. A história de Édipo, contada por Sófocles, continua fortíssima, mesmo se não está em pergaminho, papiro ou impressa nos tipos moveis de Gutenberg, mas é lida numa tela de computador ou vista em DVD. A duração do que é contado em palavras é muito maior. Então, periodicamente, o visual tem de se readequar aos novos tempos.
Uma, duas, três princesas
Ana Maria Machado
Ática
40 págs. – R$ 31,50


Revista Cult

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Manoel Messias Pereira

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