quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Reflexão Literária - Edvaldo Jacomelli, Allen Gisberg e Manoel Messias Pereira

poesia de Edvaldo Jacomelli
FORNALHA DA PAZ

Edvaldo Jacomelli

Estão cozinhando granadas em banho-maria
Estourando estilhaços contra a paz
Fervendo o ferro para fundir miolos
Construindo desilusões
Estão escrevendo uma história sangrenta
Lapidando ogivas
Fabricando lágrimas
Enlatando a fome
Soltando bombas na noite bela
Dragando canais
Queimando o solo
Esburacando a alma
desnutrindo o sentido da vida
Estão poluindo os vales
Codificando a amizade
Computando o diálogo
Intelectualizando a maldade
Adulterando valores sociais
Fazendo sopa com a sabedoria divina
Esculpindo totens para a fraqueza carnal
Treinando letras garrafais nos jornais obscenos
Estão despindo a boa-vontade
Cicatrizando as marcas da descrença
Sangrando os passos do otimismo
Ateando fogo nos edifícios da honra
Lesando a caridade,
Estão frutificando genes cibernéticos
Congelando sentimentos relevantes
Coagulando vozes esquecidas nas consciências
Engolindo a erosão dos fatos embaralhados,
tontos de olhar para pontos-de-fuga
Nessa bacia de emoções saltitantes
Coloco em minha fornalha da paz
O livro de Cupido e a flecha do amor
Para que os átomos da inteligência escutem:
O grito de sangue
Dedilhando o vago na esperança da magia
Esperando a gravidez de a estrela gerar
A compreensão
E que o infinito mostre aos homens o fim da violência
Explodindo-os de alegria
E amor pelo irmão…

Edvaldo Jacomelli
poeta e cronista
de Irapuã para São José do Rio Preto- SP

2º lugar VIII Festival Rio-pretense de poesias – jun 1988
2º lugar II Concurso de Poesia da Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal – dez 1988
Gilberto Gil


Poesia de Allen Gisberg

Presença em Gales

Neblina fina que sobe o morro e descamba
rios de vento que alisam árvores.
De cada
nuvem que ondula explode e passa um mesmo giro fundo evapora
por cima de samambaias que prendem
a pedra verde em franja mansa
vista através da vidraça enquanto chove no vale
Bardo, ó ser, Visitacione, não fale
nada ou então diga somente o que esse homem já viu num vale em Álbion
um povo cuja ciência termina na coerência ecológica
das sábias relações terrestres
dez séculos de trama tecida de olhos bocas visíveis
pomares da linguagem da mente humanifesta
um cardo em simetria satânica uma planta eriçada
florindo no chão veloz sobre um centro
de leves margaridas irmãs angelicais como lampadas -
Além de Londres sua torre de espinhos suas cenas simétricas
de TV em cadeia & o Ser do Bardo barbado, onde lembrar
um dia como hoje no morro a nesga de carneiros balindo árvores
no ouvido do velho Blake & a velha calma de Words -
worth com os mudos pensamentos nela
nuvens no esqueleto dos arcos passando em Tintern Abbey -
Bardo Sem Nome do vasto assombro de tudo, rumor!
Uma só coisa, o vale se esticava tremendo, o vento
deitava em lençóis de musgo,
grande força redonda que afogava a neblina na água fina vermelha
dos riachos da encosta
cujas ramas se torciam caladas
calcadas em mistura granítica -
e erguia também do chão o Espaço Nébulo erguia o braço
das árvores e o capim do instante
mantinha erguidos os carneiros parados
alçava, numa onda solene, o dorso verde

Sólido pedaço no Céu, gota de vale,
toda a imensidão diminuta rolando em Llanthony Valley,
em toda a área da Inglaterra coesa, vale em vale, sob o risco
das doces toneladas do oceano do Céu
Céu que se equilibra num fiapo de grama
urro do morro vento lento e esse corpo
um Ser, um perto Algum, visão da encosta
cosendo em brilho e calma os equilíbrios fluindo,
um gesto vara o escuro céu-chão e são milhões de margaridas que o fazem,
é o gesto de uma Força Serena que induz o mato molhado
até a rama mais distante de neblina fina aspergida
na corola do morro -
Nenhuma imperfeição no morro em flor
Os vales respiram, céu e terra andam juntos
margaridas engolem polegadas de ar verduras vergam
átomos piscantes vegetam no capim em mandalas
manchas espalhadas ruminam com olhos de carneiro vazios
cavalos dançam na chuva quente
árvores ladeiam canais em rede viva nos campos
ermos paredões frutificam
seios de espinheiros desabrocham colinas
passam roceiros ermos cuspindo samambaias e ervas -
passar entrar cair rolando no oceano de sons, rajadas
cair no chão ó mãe ó grã-Mãe Úmida, jamais uma lesão em teu corpo!
Pare vendo de perto, nada é imperfeito no mato,
todaflor cada olhoflor um Buda, e a história se repete,
a alma multiforme ajoelha
perante botões quentes inquietos erectos, sinos
dobrados no caule trêmula antena,
& olhe vendo de dentro nos carneiros que espiam
paradamente respirando sob folhas e gotas -
Deito e misturo a barba no morro em pelo viscoso
cheirando ileso o chão-vagina provando
úmidas emanações violetas de penugem de cardo -
Um ser tão vasto, em tão vertiginoso equilíbrio, que seu sopro mais fino
afasta no assoalho dos olhos a flor mais quieta do vale
treme em rendas de águateias na lãcapim dos carneiros
suspende copas e raízes, pássaros na grande corrente
levando o mesmo peso na chuva, a força eclusa
gemendo chamando terra
coração, junção de espantos.
O grande mistério é o não-mistério
os sentidos correspondem aos ventos
o visível é visível
o vale em ondas anda com uma barba de chuva
átomos cinzentos desaguam na cabala do ar.
A mente está de pernas cruzadas
imóvel numa pedra e respira
está elástica no capim mole e respira
na beira de margaridas brancas na estrada.
O sopro do Céu desce ao umbigo,
minha própria simetria descamba, sopram samambaias rasgadas
cujas frondes me aspiram, sopra o mesmo agora
vento de Capel-Y-Ffn, sons de Aleph e Aum
na vegetação dos ossos
na massa de cartilagens-paisagens
crânios e colinas iguais numa só Álbion.
Que foi que eu vi? Detalhes. A
visão do grande Um pluriforme -
marcas de fumaça subindo
no calor silencioso da casa
marcas de uma noite que embarca
vazia de estrelas
porém ainda molhada de gestos no céu preto dos ventos.


Allen Gisberg

poeta norte americano
da geração beat
Nova York - EUA.



Poesia de Manoel Messias Pereira
Globalização

Vejo o ser vivo,
cético, amargo,
e a globalização
numa fundação
de conexão
do capital
e desconexão
internacional
em que não há
uma seguridade social
o um salário mundial
com o direito igual
como imaginou o velho Karl,
pra imperar a paz universal
o direito de comer
de vestir, de crescer
de respeitar e ser respeitado,
em qualquer parte
deste planeta,
mas almas capitalesca
tidas como desbravadoras,
só sabem ser e,
são exploradoras,
agentes do sofrimento e morte,
e a tal liberdade
sonhada está sim alicerçada,
num engano. Desculpe.

Manoel Messias Pereira

poeta
São José do Rio Preto - SP
Gabriel Pensador

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